terça-feira, 30 de março de 2010

Um guerreiro e o amor.

Texto feito por um grande amigo, Eduardo. Coloco aqui por carinho e admiração a ti, irmão:

Gastel estava descansando, calmo e sereno. Em sua cabeça, uma música doce e suave tocava, logo interrompida por uma vez aguda e imatura: uma voz de sede, sede de sabedoria.
“O que quer, criança?”
“Quero saber se é Gastel, o grande guerreiro.”
“Sim, sou.”
“Quero ouvir uma história.”
“Quer ouvir a história de quando achei o amor?”
“Sim” – Disse o jovem menino, sem espanto ou questionamento em seu rosto.
Ao se levantar, a máscara de Gastel reluzia contra o rosto do menino. Na sua máscara, a expressão séria e tranqüila era eternizada e em sua capa, o sangue de todos seus inimigos ainda formava uma pintura tão abstrata quanto o som de sua respiração.
“Num belíssimo dia, notei que já havia vencido o ódio, engolido a angústia, mutilado a saudade e entrevado a miséria. Porém, um sentimento continuava a me avassalar. Um sentimento que me tornava escravo da música que ecoa na minha mente, das pernas que dançam em minha memória e dos cheiros que sustentam-se nos meus lençóis.”
“Era o amor.” – Afirmou o menino, com toda a certeza. Gastel balançou a cabeça que sim. Mexendo sua capa em caricatas danças, ele continuava a contar a história.
“Então, eu viajei mais uma vez para dentro de mim. Perguntei ao meu cérebro aonde poderia achar o amor e ele me mandou seguir minhas veias. Deixei que a correnteza do meu sangue amargo como vinho me levasse até meu coração que pulsava em respostas negativas. Continuei a procurar por todos os lugares. Porém, nunca achei o amor.”
O menino prestava atenção nos detalhes, pois sabia que Gastiel era deveras subjetivo.
“Então peguei minha espada, subi numa alta montanha e escalei as nuvens. Rendi todos os deuses; alguns se rendiam instantaneamente, outros ainda lutavam por pouco mais de dois dias, em vão. Perguntei a cada um deles aonde poderia achar o amor. Disseram então que eu deveria escalar estrela por estrela, cosmos e mais cosmos, galáxias e universos.”
O menino começava a se mostrar mais interessado, cada vez mais a fascinação enchia seus olhos. Gastel agora estava totalmente ereto, com sua pose única e sua voz cósmica de todos os tons.
“Eu, Gastel, o grande guerreiro, jamais desistiria diante da dificuldade, já que o medo foi uma de minhas primeiras vítimas. Em pouco menos de trezentos e vinte anos, escalando mais um dos universos, achei um lugar tão vazio, onde nenhuma luz entrava e onde nenhum som se propagava. Gritei pelo amor, mas não conseguia escutar minha própria voz. Gritei tão alto e ainda assim, nada conseguia escutar. Até que eu escutei uma voz que simplesmente não posso descrever. Ela muito calma, me perguntava o que eu queria. Eu, surdamente respondi que estava ali para matá-lo, assim supondo que aquilo que ali estava, no meio da escuridão, fosse meu atual objetivo.”
Logo, sinto todos os ossos de meu corpo quebrarem, esfarelarem. A dor, mesmo que morta anos antes por minha espada, ali aparecia novamente, tão infinita quanto não se pode imaginar.”
O garoto parecia angustiado, mas sinistramente interessado.
“Então eu tremi, tremi de pavor, pavor falecido, pavor que estava vivo agora, dentro de mim. E eu chorei, chorei de saudades de pessoas que haviam morrido há muitos séculos. E não conseguia entender, apesar da dúvida estar tão morta quanto a própria morte. Foi então que eu entendi que o amor era um inimigo que eu jamais poderia vencer. Em meio ao meu pranto e dor, eu me permiti cair, cair no meio de todos os pontos brilhantes e bolas flamejantes siderais e voltei até minha humilde casa. Voltei até onde estamos agora. E posso lhe afirmar que nunca jamais voltarei até o amor, pois o amor é o revés de tudo que nós vivemos. O amor é algo que nunca podemos matar, destruir... Simplesmente porque se um dia você tentar, significa que você já foi morto por ele.”
O garoto se levantou, sua voz parecia mais satisfeita com um sonoro obrigado. Gastel se embrulhou em sua capa vermelha e sentou-se no chão, calmo e sereno.