segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Silêncio e som.

É redundante fechar os olhos quando já se está dormindo. Os ritmos são calmos, como o sabor do silêncio. Sua boca emite um pequeno estalado, seco, apenas seco. As mãos já estão cansadas, procuram algo resistente para se apoiar, o cansaço finalmente chega e você sente isso. Você chega a pensar em pensar sobre o passado, porém sua mente não acompanha mais o desejo da alma. A sala permanece escura, e os livros ao seu redor já não brilham mais. A música continua calma, serena, seu ouvido precário apenas ouve as partes que lhe fazem lembrar. Através disso, miseravelmente volta de momentos em momentos ao passado. Você decide sentar, está cansado afinal, então você senta, aperta o braço direito da poltrona como o de costume e sente o vento entrar pela janela entre aberta, ensaia um sorriso de satisfação, mas sua boca está seca demais para isso. Então decide abrir os olhos, com estes entre abertos percebe que sua visão já se acostumou com o fato de estar no escuro. Enfim, você abre seus olhos, apenas percebendo as formas das coisas ao seu redor, aos poucos, começa a ver os artefatos que tanto buscou em sua vida, que agora parecem apenas resultados de realidades vazias e no escuro. Passa os seus olhos devagar por elas, sem perceber, se vê com os olhos vidrados em algo que parecia ser um porta-retrato. Pisca os olhos. Olha novamente para o porta-retrato e nele vê o formato de um rosto feminino. Pisca os olhos novamente, porém dessa vez mais devagar. Aperta mais um pouco o braço direito da poltrona, sente um arrepio lhe subir o corpo e um frio na barriga. Abre os olhos e não consegue ver de quem é aquele rosto. As luzes estão apagadas, a música parece estar lenta e começa aos poucos a se confundir com o barulho do relógio de cabeceira, aos poucos a música some e o barulho do relógio fica cada vez mais pesado e demorado. Você não tira os olhos do retrato, querendo lembrar, querendo provar para seu corpo que ainda manda nele. Pede por lembranças, mas não as tem. Clama por luz para ver o retrato. Decide levantar para acender a luz, mas está cansado demais para fazê-lo. Então, como ato de desistência, encosta de vez na poltrona e é dominado pelo silêncio. O tempo passa... O som pesado do relógio volta a ecoar em sua cabeça, se acentuando cada vez mais. Então sente em seu peito uma sensação familiar, porém atípica. Coração apertado. Sente seu rosto carregado, aos poucos formando algum tipo de expressão, seus olhos ficam pesados. Você decide piscar, neste ato, abruptamente se precipita uma lágrima, esta, lentamente contorna as formas envelhecidas de seu rosto e chega até a sua boca. Você a abre lentamente e sente aquela lágrima se expandir pelos lábios. Molha sua boca, e a sensação atípica informa a mente uma expressão da alma. Então elas entram em comunhão. Seus olhos vidrados relaxam e seu coração apertado deixa o sangue fluir. O alívio se torna real, e seu pedido também, através da suave lágrima permitindo aos lábios apenas dizer, "Você..."