quinta-feira, 10 de abril de 2014

Vermelho e azul

Quem dera fosse o destino, mas é apenas um refrão, orgânico e subliminar. Uma música de poucos silêncios e ritmos acelerados demais.

Por ali, enquanto a luz no escuro oscilava entre o azul e o vermelho, meus olhos e pulmões se preenchiam de fumaça. Sei que as luzes não chegavam no teto, este permanecia escuro com a noite, na cama transbordavam desejo e sonhos que parecem ilusões. Transbordava lençol também, mesmo que eu ajeitasse sempre. Então a brasa seca do cigarro queimava o ar enquanto o ritmo acelerava demais.

Dentro daquelas paredes havia chuva. Quando devagar a água serpenteava a parede, escorria das fotos e prateleiras cores e odores esquecidos. A luz piscava infalível, e refletia nos pingos gelados de sonhos e fumaças que caiam por ali. Nas paredes pendiam musicas e lembranças, molhadas e escorridas. Silenciosas. Dentro daquelas paredes o ar se afogava, e das madeiras saturadas do chão se escondiam sujeiras que com a chuva suspendiam e se juntavam as cores naquela inundação. O vento gelado do ventilador não tocava o chão e a cama encharcada exalava como um animal molhado. Pintado de histórias e tristezas que depois de transbordarem até o chão se aconchegavam nas roupas sujas e restos de amizades e guimbas por ali.

A chuva gelada não tinha som, assim seu desespero não se ouvia. Impassível ela oscilava lenta e imperceptível, seu toque queimava e escorria como um arranhão. Com ela tudo ficava lento, e a escuridão vermelha e azul parecia um refrão, orgânico e subliminar. Até o sono e o ópio afagarem o grito e o silêncio indolor fizer seu som, quente e curto. Repleto.