sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Entre o dormir e o acordar

A garganta se fecha aos poucos, as vezes sem perceber. Ela se sente trancada. Palavras não servem mais, elas não servem. Mas ele não se importa, acredita que dentro dos sonhos o que ele quiser pode se tornar real, mas precisa de um amor pra formar a quimica, a fisica, o sentido. Formado por crenças e por atitudes que foram psicofaturadas por si mesmo, ele segue seu rumo transformando os momentos de dor em pétalas de uma linda flor vermelha e faz delas o jardim de seu sonho. Ele pensa nos detalhes, nos meros detalhes que lhe montaram um dia, sentado em meio as pétalas, os pés cruzados, mãos dadas, olhos fechados. Lembra dos amores que criaram seu chão e da eterna queda da solidão, dos pensamentos rápidos e sólidos que surgem em quanto estava caindo e lá ele percebeu que não havia criado o fundo, percebeu que não queria criar o fundo do abismo. Viu que na queda ele sentia o vento bater no seu rosto, o sangue bombear rapido, a total falta de controle sobre o seu corpo, alma e mente, não consegue manter os olhos abertos, pois não há fundo, não há porque enxergar. Então ele cai em eterna constância, é só aquilo, mas nada, só. Cair lhe causa vicio e ele abre seus olhos. Aperta de leve os dedos dos pés até sentir a terra. Sente o cheiro suave das flores, o barulho acalmante do vento batendo nas pétalas, fazendo seu cabelo sair de seu rosto, indo pra trás. Com os olhos entre abertos e embaçados ele vê o sol se pondo e o céu com tons avermelhados e alaranjados,e se espalhando ao longe o vasto campo de rosas vermelhas. Ao piscar os olhos, apenas percebe se aproximando aquela que faz a quimica, a fisica, o sentido. Com um vestido branco, cabelo solto, passando a mão nas rosas devagar, uma por uma. Então ele levanta, sente a terra embaixo de seus pés, e de olhos fechados caminha em direção a ela...

Um pedaço apenas do Sol ainda se encontra na vigilia, fazendo os tons do céu ficarem escuros e surgindo aos poucos pequenas luzes no céu chamadas de estrelas. As pétalas vermelhas ficam vinho e o vestido branco dela cada vez mais claro. Eles se abraçam. No abraçar o vento não bate mais em seu rosto, o sangue bate devagar, suave, sente cada parte de seu corpo, alma e mente, mas seus olhos continuam fechados. Ela fica na ponta dos pés e chega devagar ao ouvido dele e levemente abre seus lábios e diz:

--Não tenha medo, meu amor. Abra seus olhos e veja o que há no fundo do abismo.