quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O segredo e um sábado dormente

Enquanto o silêncio e o som escrevem sobre um você, os acordes e versos de um mundo escuro se fundem, formando tornados e tempestades por ali.

Era um sábado quente, parecia verão, com a porta entre aberta só dava pra passar os raios do Sol que queriam ver meu rosto. Sempre tentando me acordar, parecia que estavam querendo me lembrar de algo. Seja como fosse, era sempre aquele sábado quente. O horário se perdia entre alguns devaneios, as vezes em algumas lágrimas, outras em raros sorrisos. Sorrisos feitos de uma alegria breve, súbita como a vinda, nada silenciosa e sem mentiras. Sei que geralmente os raios estavam a se pôr e com eles, as vezes, o vento soprava, fazendo sair do mensageiro dos ventos um som suave e sereno, como o escuro de um quarto no amanhecer do dia.

De vez enquanto algumas nuvens apareciam e com elas uns pingos tímidos caiam e logo se evaporavam. Quase tudo se evaporava nesse sábado quente. O que sobrava criou tanta história, tantos contos e fábulas de outrora, tantas figurinhas e papéis de parede disfarçados de amor, que mesmo sendo mentira, sobravam, criando pitadas de verdade.

Era sempre longo aquele sábado quente, me esquecia por vez ou outra que estava ali. Ele por si só era repleto, tanto que me sufocava sem querer, como um tropeço, me fazia sentir cheiros antigos, perfumes desconhecidos que só me traziam saudades. Respirava, as vezes, nesse sabado quente. A sensação que me remetia era de completude, mas parecia vago, silencioso, como se mesmo assim faltasse alguma coisa. Algo perdido em algum lugar, faltava apenas aquilo para que fosse pleno, formando um fôlego vazio e oco que se transbordava em si, me enchendo, me inebriando.

Depois das tantas tempestades e tornados, só restava o mero saber de que o que faltava se guardava no segredo por trás do porque dos meus olhos nunca conseguirem ver o Sol se pôr, naquele sabado quente.

sábado, 15 de setembro de 2012

Memórias de uma parte que não tinha.

É muito cedo para se destruir um mundo feito de sonhos.

Depois de certas mudanças e de formas de ver uma mesma situação, somos fadados a chegar a conclusões. Fadados a perceber nos detalhes que aquilo se tornou passado. Que bom que se tornou passado. O que seria de nós se não deixassemos que as coisas fossem? Há quem diga que somos feitos de despedidas. Irremediavelmente raptados pelas cordas e equações do tempo. Mas deixa isso quieto por enquanto, é só um detalhe. Quanto ao nosso fardo que procede uma situação, não se desespere, não somos feitos de conclusões. Somos um processo lento e relativo que tendem a criar perguntas e esconder as respostas no mais fundo mundo do subconsciente. Como não sabemos disso, reflita, nunca destrua um mundo feito de sonhos, ele é o produto do mais claro você, nu, cru e, principalmente, perfeito.

Certas sensações, sentimentos que reagem dentro de nós de uma forma tão diferente, revolucionam por si só, coisas na mente, alma e corpo. Criando na mente mundos e sonhos que fazem de nós seres magnificos. Essa "magia" nos faz sentir de uma forma unica o sentimento que for, nos tornando divinos. O principal disso, é perceber a interação da energia entre dois seres, e o quanto eles são capazes de dividir esses sentimentos. Se tornando um de uma forma que nenhum dos dois conhece, mas que apenas amam. O ser, que você divide as batidas do seu coração, não é apenas um ser. É, seja por um momento, o ser mais importante do universo. Porque é com ele, que você se torna um com o todo, as vezes, em segundos. Momentos em que silêncios se tornam palavras e o amar se torna fisico e tangível.

Enquanto respirar lembre-se de respirar, de beber agua e sem querer soluçar, de que do Sol vem uma luz que te aquece, te arrepia, de que é uma pessoa unica, de que da mais simples forma de amar se tira um suspiro, aquele que te faz respirar. Descubra que o amor é simples e que nele se guarda você e os sonhos que um dia te disseram que nunca iria realizar.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Poslúdio

Depois da hora mais escura da noite...
Acordo com os pássaros cantando sem pressa ao longe
Sem te acordar lhe beijo devagar e fico te olhando sonhar
Por debaixo da cortina, as luzes fracas se abraçam com o escuro,
E do cobertor, sua mão encontra a minha
Levantamos e tropeçamos de sono
Subimos as escadas correndo até o terraço
Você pula atrapalhada nas minhas costas..
E lá ficamos abraçados vendo o Sol nascer em nós.

sábado, 8 de setembro de 2012

Mar de tons

Antes do Sol nascer havia uma Lua sorrindo, ao lado dela uma estrela ingênua e tímida, envolta estava a noite que se confundia com as gritos de felicidade e as frases dos dois que dançavam nas nuvens.

Você pode facilmente confundi as luzes com as pessoas e aqueles sons com os pensamentos que jazem inteiros, quase concretos, cheios de tons. Você pode até pensar que só há loucura e vazio e se esquecer que há mais do que corpos cheios de som, há tantas histórias, tantos contos, poesias. Vidas. Mundos. Sob um olhar minucioso e devagar você observa elas se inflando, se tocando, formando tantas outras histórias em olhares, gestos e sons. Histórias que nascem com o Sol, fazendo um novo dia.

Então você se lembra que está ali, os olhos piscam e você se sente invadido pelo mar de som feito de tons e dentro deles há aquele feito de sonhos loucos, de um dormir sem demora, feito de leveza e paz, de uma poesia de cores como os cabelos que balançam com o ritmo hipnotizante, de movimentos, olhar e boca cheios de sorriso. Um tom cheio de sorriso, com um sabor que guarda sensações que fazem esquecer da respiração e que com olhos fechados criam na imaginação aquele nascer do sol na praia e no estar um silêncio inebriante e maravilhoso. Tirando o sono antes de dormir, fazendo sonhos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Chuva púrpura

Por ali não havia frio, trevas e nem medo.

Naqueles trovões haviam mais que ar se deslocando, haviam gritos e personagens que se esconderam por trás da mente. Ele conseguia sentir o mundo falando, sabia que por dentro dos relâmpagos que se propagavam dentro de seu ser eram feitos pela sua mente, feitos pelos tantos surtos de outrora e de todas aquelas despedidas.

Então a chuva cai, tocando seu corpo ainda ajoelhado, tocando as lágrimas em seu rosto, se misturando, lhe transformando em agora. Em suas mãos ele segurava os demônios que criou em suas buscas para entender os detalhes que fazem o caos dentro do ser. Percebeu que dentro dessa busca se escondiam muito de seu próprio ser, muito do que havia pensado e criado em sua jornada pelos mundos. A chuva ainda estava ali, torrencial, extravagante, orgânica e aconchegante. Ali, só ali, os trovões eram como o seu grito, sua paz era  no tom da chuva e as luzes feitas pelo céu brilhavam tanto quanto seu coração. Ali tudo era a sua altura, enorme, divino.

Seu corpo se arrepiava as vezes, aos poucos, naquela noite, os trovões ecoavam cada vez mais distantes, longos e "ocos", a chuva se abrandava no ritmo do coração dele e os relâmpagos não queimavam mais o ar. Era devagar, o ritmo era lento, equilibrado, sem pressa. Enfim o silêncio e os pingos que se soltavam das arvores molhadas. Ele suspira. Com a energia de seu corpo aos poucos se formam no céu uma aurora púrpura, então ele abre seus olhos e contempla aquele céu com seus braços abertos e então seu ser conversa com aquele silêncio. Ali, o Silêncio disse que o ser é feito de tempos, feitos de um quebra-cabeça completo que se perdeu na mente e nos mundos da subconsciência e que só providos de verdade e de equilíbrio se é capaz de monta-lo definitivamente. Que montamos ele as vezes quando esquecemos que existimos.

Quando esquecemos quem somos.