terça-feira, 4 de setembro de 2012

Chuva púrpura

Por ali não havia frio, trevas e nem medo.

Naqueles trovões haviam mais que ar se deslocando, haviam gritos e personagens que se esconderam por trás da mente. Ele conseguia sentir o mundo falando, sabia que por dentro dos relâmpagos que se propagavam dentro de seu ser eram feitos pela sua mente, feitos pelos tantos surtos de outrora e de todas aquelas despedidas.

Então a chuva cai, tocando seu corpo ainda ajoelhado, tocando as lágrimas em seu rosto, se misturando, lhe transformando em agora. Em suas mãos ele segurava os demônios que criou em suas buscas para entender os detalhes que fazem o caos dentro do ser. Percebeu que dentro dessa busca se escondiam muito de seu próprio ser, muito do que havia pensado e criado em sua jornada pelos mundos. A chuva ainda estava ali, torrencial, extravagante, orgânica e aconchegante. Ali, só ali, os trovões eram como o seu grito, sua paz era  no tom da chuva e as luzes feitas pelo céu brilhavam tanto quanto seu coração. Ali tudo era a sua altura, enorme, divino.

Seu corpo se arrepiava as vezes, aos poucos, naquela noite, os trovões ecoavam cada vez mais distantes, longos e "ocos", a chuva se abrandava no ritmo do coração dele e os relâmpagos não queimavam mais o ar. Era devagar, o ritmo era lento, equilibrado, sem pressa. Enfim o silêncio e os pingos que se soltavam das arvores molhadas. Ele suspira. Com a energia de seu corpo aos poucos se formam no céu uma aurora púrpura, então ele abre seus olhos e contempla aquele céu com seus braços abertos e então seu ser conversa com aquele silêncio. Ali, o Silêncio disse que o ser é feito de tempos, feitos de um quebra-cabeça completo que se perdeu na mente e nos mundos da subconsciência e que só providos de verdade e de equilíbrio se é capaz de monta-lo definitivamente. Que montamos ele as vezes quando esquecemos que existimos.

Quando esquecemos quem somos.