terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Um escuro pote de tinta seca

Olha, se sumo, mesmo parecendo, não é como se eu tivesse esquecido. É que, bom, parece que os olhos se voltam apenas pra frente, como se de alguma forma eu me dominasse completamente, sem precisar de um sermão, ou de tantos ombros, tantos como os seus.

Quem sabe, depois de vocês, eu possa apreciar um pouco mais, sentir na ponta da língua alguns gostos que vocês esqueceram de sentir, ou se esqueceram deles. Será isso tão importante assim? Mesmo assim vocês continuam ai me observando, como se fossem reais, como se pudessem me tocar. Quando fui vocês me percebi de tantas formas, transformando tantos pensamentos e emoções em poesia e formando dentro de mim histórias e contos que sempre soaram e soarão em silêncio, ecoando por entre os fantasmas e paredes desse mundo cheio de bordas escuras e de cores que só lembro quando as toco. Devaneios de amor e de solidão disfarçados de tão intensos que sóis até se põem em mares de tinta e montanhas de prata levantam de desertos de cinza. Aonde jazem tantas pegadas, tantas desenhos feitos a mão e partes de livros rasgados, papéis de parede e potes abertos de tinta seca. Quando foi que, criando vocês, fiz tanta bagunça?

Nesse silêncio e escuro que tanto pintei com minhas mãos ansiosas, deixei cair e escorrer pingos de tinta que se secaram no chão, essenciais e duros demais pra se conseguir tirar. Criando sem eu perceber restos sinceros e espontâneos de uma arte minha que não controlo, que escorrem de minhas mãos sem eu perceber e que, por serem plenas demais, criam o chão aonde piso. Sim, piso. As vezes forte demais.

Mesmo assim vocês, partes de mim, tão gigantes e sóbrios, tentam, com as mãos em meu ombro, resgatar os tantos pingos de tinta presos no chão, criando tempestades e terremotos para que eles se movam e voltem para minhas mãos, que bambas e trêmulas continuam a pintar esse quadro.

Quadro que se você olhar de perto acaba achando que está olhando em um espelho, mas se você se afastar vai conseguir ver algumas paisagens, dependendo do angulo algumas pessoas, mais um pouco longe verá algumas lembranças e depois momentos, emoções, sentimentos, sensações e finalmente não verá mais nada. Nesse momento, será isso tudo tão importante assim?