Para conseguir imaginá-lo você tem que recorrer as suas mais
profundas memórias, aquelas guardadas em um cofre bonito, moldado de ouro e das
mais belas cores.
Nesse sonho a sensação é conhecida, ao fechar os olhos se
consegue sentir a nostalgia de cada olhar, cada risada e cada momento do mais
puro sentimento que não conseguimos definir. No ônibus aonde viajávamos estavam
os melhores companheiros da nossa vida, aqueles que nos tiraram um sorriso
tantas vezes e que deveras estavam ali, apenas por nós. Viajando ao nosso lado,
fazendo de uma fuga uma viagem de uma paz sem fim.
No formato de sonho, os momentos de nossa imaginação tomavam
forma, de súbito. Nestes, brincávamos todos juntos em meio a rua, nos jogávamos
no chão rindo, ele deslizava, quem olhasse de longe acharia que era briga, mas
era como se só nós soubéssemos como ser feliz no mundo, em meio aos tropeços e
escorregões, encontrava seu olhar, tão brilhante e real. Esbarrava com esse
olhar em meio aos tantos momentos de nostalgia naquele ônibus, quando dançávamos
todos ao som de nossas vozes, quando todos cansados começavam a ri do nada,
quando revíamos todos juntos as filmagens que fazíamos das lembranças de nossas
vidas.
De alguma forma, você não conseguia acreditar naquele sonho,
sempre que o ônibus parava em seu ponto você saltava sem eu ver, e eu descia
correndo pra te buscar. Em uma das vezes, o sol estava se pondo, e aquele ponto
de ônibus se transformava em um cinema a céu aberto e todos em volta assistiam
deitados, acomodados, como se fossem passar a noite ali, e iam. Vejo o filme
com o braço esquerdo abraçando seu pescoço, de súbito você sai, senta um pouco
longe, depois de um tempo, vou até você e ali você estava com uma carta na mão,
me olha e me da um sorriso. Por ali as luzes se apagam junto com o sol e a
gente adormece abraçado.
Mas você sempre tentava ir embora, me dizia que queria ter
certeza de uma coisa antes, que faltava alguma centelha em você presa na
realidade, mas que você queria estar ali viajando conosco. Era sempre uma festa
diferente quando você voltava e todos te recebiam como se a tivessem conhecendo pela primeira vez. Fazendo você, sem querer, brilhar cada vez mais.
O sonho não tem fim e acaba com você viajando com a gente. Íamos
em direção as mais belas crônicas e contos de fadas, não havia espaço para o
medo e o arrependimento. Eram luzes viajando dentro de um ônibus que não
balançava em estradas esburacadas e não caia de precipícios.