sábado, 27 de outubro de 2012

Luzes de sonho


Para conseguir imaginá-lo você tem que recorrer as suas mais profundas memórias, aquelas guardadas em um cofre bonito, moldado de ouro e das mais belas cores.

Nesse sonho a sensação é conhecida, ao fechar os olhos se consegue sentir a nostalgia de cada olhar, cada risada e cada momento do mais puro sentimento que não conseguimos definir. No ônibus aonde viajávamos estavam os melhores companheiros da nossa vida, aqueles que nos tiraram um sorriso tantas vezes e que deveras estavam ali, apenas por nós. Viajando ao nosso lado, fazendo de uma fuga uma viagem de uma paz sem fim.

No formato de sonho, os momentos de nossa imaginação tomavam forma, de súbito. Nestes, brincávamos todos juntos em meio a rua, nos jogávamos no chão rindo, ele deslizava, quem olhasse de longe acharia que era briga, mas era como se só nós soubéssemos como ser feliz no mundo, em meio aos tropeços e escorregões, encontrava seu olhar, tão brilhante e real. Esbarrava com esse olhar em meio aos tantos momentos de nostalgia naquele ônibus, quando dançávamos todos ao som de nossas vozes, quando todos cansados começavam a ri do nada, quando revíamos todos juntos as filmagens que fazíamos das lembranças de nossas vidas.

De alguma forma, você não conseguia acreditar naquele sonho, sempre que o ônibus parava em seu ponto você saltava sem eu ver, e eu descia correndo pra te buscar. Em uma das vezes, o sol estava se pondo, e aquele ponto de ônibus se transformava em um cinema a céu aberto e todos em volta assistiam deitados, acomodados, como se fossem passar a noite ali, e iam. Vejo o filme com o braço esquerdo abraçando seu pescoço, de súbito você sai, senta um pouco longe, depois de um tempo, vou até você e ali você estava com uma carta na mão, me olha e me da um sorriso. Por ali as luzes se apagam junto com o sol e a gente adormece abraçado.

Mas você sempre tentava ir embora, me dizia que queria ter certeza de uma coisa antes, que faltava alguma centelha em você presa na realidade, mas que você queria estar ali viajando conosco. Era sempre uma festa diferente quando você voltava e todos te recebiam como se a tivessem conhecendo pela primeira vez. Fazendo você, sem querer, brilhar cada vez mais.

O sonho não tem fim e acaba com você viajando com a gente. Íamos em direção as mais belas crônicas e contos de fadas, não havia espaço para o medo e o arrependimento. Eram luzes viajando dentro de um ônibus que não balançava em estradas esburacadas e não caia de precipícios. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Uma estranha mágica feliz

As pessoas se derretem o tempo inteiro em si. Fugindo, por vez ou outra, do resto em volta. Esquecem, por querer, que não há como se ignorar o que se vê e sente.

Seja humano! Ao fazer isso você vai reparar que, de fato, é fácil um bando de coisa. É positivista e zen falar isso, mas é por esse caminho que temos que fazer dentro de nós para tornar o nosso mundo exterior - o que nos tange - mais parecido conosco.

Escrevendo meu livro perto do céu, encontrei uns seres estranhos, eles eram em demasia felizes. Tão estranhos que nem se percebiam, pulavam por ali e sorriam sem se perguntar os tantos porquês. Aqueles porquês, hum? Esses que a gente tanto se faz antes de sorri. Não só de sorri, mas antes de se perceber e de pular. Olha que estranho, eles eram felizes! Enquanto por ali, percebi que era o homem mais feliz do mundo. Mesmo que por um momento. Não falei com eles, nem sequer interagi, não precisava. Eles eram energia, me amavam de súbito e me arrepiavam quando respiravam o mesmo ar que o meu. Estranhos. Belos.

Há mais mágica do que a gente imagina. Há muito de nós na escuridão dos olhos fechados, quando nos esquecemos, no silêncio, quem somos. Não é mentira quando você olha em volta e se sente enorme, e percebe que pode alcançar tudo, também não é mentira quando o mais fino pedaço de si é o que sobra e, amedrontado, ele se acanha e se encolhe em si, desaparecendo quase que sem querer. Lembre que se trata de você e quando se fala nisso, se fala sobre um universo de possibilidades. Mas isso é um clichê, hum?

Há dias em que o sol nasce duas vezes. Ao descer dos sonhos, respire e toque o real sem medo.

O Forasteiro


De outros ventos, de outros lugares contidos no mundo dos humanos.

Diferente, atraindo olhares a sua pessoa. Involuntariamente encantando corações de mulheres solitárias a procura de um homem diferente dos demais. Calmamente e sem intenções, o nobre estrangeiro com seus segredos e histórias a contar não procura um lugar pra ficar, como um hotel ou a casa de um casal de velhos dispostos a acomodar um nobre forasteiro vindo de lugares inimagináveis. Adormeçe embaixo da copa de uma arvore da região. Cidadela gentil, poucas pessoas, um lugar aparentemente familiar. Não está muito preocupado com isso, está de passagem, pra muitos seus atos e seus costumes despertaram curiosidade, mera consequência de sua aventura. Seu destino possivelmente ninguem por ali sabe. Simplesmente desloca seu corpo a lugares aonde, como dizem, o vento levar.

Acorda meio atordoado, vindo de um lugar estranho aonde ele denominaria de um pesadelo. Seu espirito voltou assustado, por isso o atordoamento. Não voluntariamente, foi acordado por uma criança. Aparentemente uns 7 pra 8 anos de idade, vestida com uma calça jeans, blusa branca, sapatinho azul com detalhes brancos envolta e um casado azul marinho como seus olhos, cabelo aparentemente despenteado por suas próprias mãos, possivelmente um gesto de irritação por sua mãe pentear seu cabelo de uma forma que ele não queria. Com um galho catucou curiosamente o forasteiro fazendo-o acordar. Perguntando em seguida o seu nome, ele olhou o menino e volto a dormi se cobrindo no rosto com um pano que tinha a seu lado. Petulantemente, o guri pegou o galho e levantou o pano dando um sorriso amarelo. Aquele tipo de sorriso que não tem como você não sorrir também, foi o que o forasteiro fez. Sentou-se, ajeitou seu cabelo, como se fosse adiantar alguma coisa, tentou olhar para o sol, mais não conseguiu, afinal ele tinha acabado de acordar. Levantou sua mão pra bloquear a luz do sol e olhou para o menino, que estava estático a sua frente, esperando sua resposta. O velho forasteiro respondeu, "O meu nome você sabe meu filho, me diga você.". O menino insatisfeito, insistiu, "Não sei seu nome não senhor, por isso que perguntei né...". O forasteiro abaixou sua mão e coçou sua cabeça, olhou pra sua mochila e retirou de lá um pequeno caderno contendo folhas brancas sem linhas, parecia mais uma tentativa de um diário sem destino e sem palavras, em branco. Pegou-o, abriu ele em uma página qualquer e ficou olhando por alguns minutos e deu na mão do guri. Virou pra ele e disse, "Caio, esse é um caderno que um velho me deu quando eu tinha a sua idade, como você, fui curioso e ele me deu esse caderno e disse que esse caderno responderia minhas perguntas, que só bastaria acreditar em mim mesmo." Hoje, eu não preciso mais dele pois minhas dúvidas mais íntimas já foram respondidas...". Curioso o menino pergunta, "Mais quem foi que lhe respondeu as perguntas?". O forasteiro sorriu e disse, "Isso você descobrirá...". O menino olhou para o caderno e virou de costas gritando sua mãe que estava sentada arrumando o piquinique, "Olha o que eu ganhei mamãe! Foi esse moço que me deu!". Apontando para trás. A mãe sorriu para ele e disse, "Meu Caio, não tem ninguém ali, para de brincadeiras e vem comer, eu já arrumei o piquinique, vem comer com a mamãe!". Assustado virou de novo pra debaixo da copa da arvore e não viu ninguém. O mesmo envolta. Então ele olhou pra sua mão que segurava o caderno e disse a si mesmo, "Mais afinal, qual era o nome dele...?". Triste e irritado jogou o caderno no chão e foi em direção a sua mãe.

O caderno com capa mole e preta sem nada escrito caiu aberto no gramado pisado. E em uma das páginas que se abriu no caderno se escreveu ao vento."Jonatan Khatrun."

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Valsinha de outono

Sob as notas de uma manhã sem nuvens, as vozes e rostos dos finitos ecoam na mente, como uma promessa de folhas secas que jazem no outono insólito e quente.

Em forma de cronicas, as sensações pálidas do dia entram em comunhão com um pensar de sorriso tímido e fugaz. Toda hora ela se vai, todos os dias desaparece por entre as luzes da alvorada que nasce. Levando consigo minha metade e uma parte que não tinha.

A valsinha suave soa no fundo, o vento gelado do ar condicionado se refugia em minha nuca e junto com os processos básicos em meu estômago, me inebriam  de sono. Os pensamentos se fazem em minha mente, e a solitude que me inspira torna tudo em volta mais lento e calmo, como o nascer das flores e as vívidas nascentes de água clara em uma primavera jovem. Sinto queimar um pouco por dentro e tenho certeza que não entendo o porque. Acho que no final estou cansado, de tomar chá de ervas daninhas com gosto falso de rosas, sentado com as pernas cruzadas, esperando o Sol se pôr.


O dia ainda não terminou. Quando a noite se fez, o som do piano doce ainda ecoava naquelas paredes. Por ali, deixei um conto de fadas mal feito e um arrepio que queima por dentro.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Garrafas vazias e uma gota tímida

Me rodopie de novo e esfregue meus olhos.

Por pressa se pensa precariamente no formato em que as palavras sairão, depois de pensar, claro, nos padrões atuais que ficam em nossas cabeças. A minha está cheia de tempo, ansiedade, chá, madrugadas cheias de Lua e crônicas de uma jovem livre. Sem querer revolucionamos isso quando decidimos seguir o caminho que criamos pra nós, criando um fluxo de momentos e sensações que nos fazem, no final, um pouco mais maduros, ou não.

Apenas por agora, decidi que todos os dias irei voar pelo menos um pouco. Como um velho, irei olhar fixo pras pessoas e me lembrar que há um pouco de mim dentro delas. Ouvirei novas músicas e andarei com aquele sorriso amarelo e inteiro no rosto que precede um olhar súbito pra baixo e em sequência outro para o redor, com os olhos um pouco fechados. Entre os momentos que se conectam com o fechar dos olhos e os papéis de parede que não brilham no escuro. Suspiro.

Pelo céu, as gotas pequenas de água se juntando criam descargas elétricas, formando relâmpagos, queimando o ar ao redor, depois de pesadas elas caem, atravessando o céu até tocar sua janela fria. Por ali a gota escorre. Você olhando através dela enxerga o mundo de cabeças pra baixo, com seu hálito quente de sonho a janela embaça e você não liga, repara que o dia está cinza e fecha a cortina de súbito. Se deita tímida e adormece depois de molhar os lábios.

Só quando o tempo estiver bom escorregarei por você. Aonde a chuva cair caminharei gelado, guardando em garrafas vazias os pingos de céu de outrora.

domingo, 7 de outubro de 2012

Prefácio

Depois da dança, sorrisos e arrepios,
Tiram aquele sorriso bobo do rosto e se olham de um modo diferente, 
ficam ali por alguns minutos, se olhando, se admirando. 
Observando um no outro os detalhes do rosto sobre a luz da lua. 
Misteriosamente a musica acaba, não ligam muito. 
Estavam lá, eles, a Lua e os sons da noite. 
Abraçados tentando adivinhar possíveis estrelas brilhando de um modo diferente no céu, 
descobrindo juntos figuras loucas feitas de nuvens.
Sem saber, procuravam o reflexo do amor neles no espelho negro do céu.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Nota do surto

Enquanto os pés tocam no chão, a sanha que precede o ermo cria uma fábula, como aquelas que foram deixadas para trás.

Talvez esse toque mero que silencia o peito seja o suficiente. Talvez seja uma lição, talvez seja tantas coisas. Na tentativa mera de um amar, certos cordões e lições vão fazendo maior sentido, um sentido que o viver não ensina somente, mas que apenas o toque sábio sabe as palavras certas para falar. Ouvir, silêncio, ouvir. Apenas.

Mas as nuvens continuam no céu, a Lua se esconde e as batidas secas de seu peito dormem sem pensar duas vezes. Aquele grito continua la, o grito da primeira nota do surto da fábula. Escuto ele la no fundo, sinto que ele quer me dizer alguma coisa, mas minha alma calma ainda não conseguiu escutar. Minha “alma calma que não condiz com a nossa pressa”. Pressa. De sentir saudades de uma história de contos de fada em que a perfeição parece rotina e ser feliz é quase um desespero. Na pressa, o ar corre solto, e o calor que me esquenta o peito continua ali, quase líquido, suando na manhã dormente.

Os risos e a folia continuam, o equilíbrio se mantem e vôo permanece calmo. Sem cálculos. Sem premeditações. No soluço prévio de uma quarta jornada. Um eu sem nome aprende a levantar sozinho do berço, as broncas são grandes, mas o sorriso no rosto basta. Em devaneios soltos pelo ar, só o silencio e a sua ânsia me entendem.

As cinzas voam e vejo os pés virados para cima, o céu esta escuro e sem estrelas, a luz continua no fundo, fazendo contraste com o negro do céu, as montanhas estão cada vez mais longe e a única certeza é o do caminhar, longo. Longe.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Estátua

O grito mudo ecoa no horizonte de cinzas, ainda se pode ouvi-lo, quando os olhos fecham e a boca seca.

Em som de escuro, os tambores retumbam ao longe, ocos e pesados, junto com os ritmos inebriantes do coração, seguindo o fluxo lento do sangue que aquecem as mãos. Fazendo-as secas abrirem os dedos devagar, quase quebrando. As dunas cinza escuro se cruzam com os estrondos de vento e as montanhas de prata manchada se derretem e se precipitam, jogando constelações no céu.

Os olhos não piscam, os arrepios no corpo tentam miseravelmente preencher os espaços vazios por dentro e os ouvidos buscam assimilar o som do coração com as tambores ocos de outrora. Dentro daquele ar não havia apenas poeira. Tentando engasgar a garganta, alguns sentimentos, medos e mentiras brincam de caçar os pequenos vagalumes que por ali tentam voar. Com os olhos vidrados e pernas cruzadas ele observa a oscilação da poesia funebre de seu subconsciente silencioso. Em busca de ar, seus lábios secos se abrem de vez em quanto. Respira. A sensação lhe queima a garganta e seu nariz treme. Seu rosto fecha. Em segundos aquele lugar se torna cada vez mais escuro, como o som que retumba da luz atras das montanhas. As calças negras se rasgam nas pontas a cada respirar fracassado. Engole seco. Da mais pequena brisa um arrepio na espinha, passando das costas para a ponta dos dedos. Seus olhos desviam para os braços, lhe fazendo perceber sua pele desidratada e as pequenas tatuagens vermelhas se tornarem vinho sangue, escuras, fugindo de si. Respira. Queimação. Fôlego. Fecha seus olhos. Se concentra e fecha suas mãos para sentir o calor. Mesmo com a sensação de rasgar, abre seus lábios secos e com a boca entre aberta puxa o ar. Seus olhos piscam. Seu corpo arrepia e ao redor sente um vento gelado e aconchegante. Os tambores seguem seu coração, lentos, ainda retumbam quase que vacilantes. As constelações se desmancham e as Luas se põem no horizonte que nunca amanhece.

Pequenas rochas vulcanicas por ali jazem. Das frases dormentes e cheias de Sol se brotam as estrelas que ainda se arriscam a brilhar. Em forma de estátua, seu corpo medita surdo, mudo e de olhos fechados, sentindo, entre os ventos que transformam poesias em vagalumes sem rumo, entre as cinzas frias e pesadas de um queimar antigo cuja memória se morreu nas ilusões e medos, os arrepios que anestesiam a alma, como um poema esquecido por um fazer sem sentido.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pedaços de Lua

A voz ecoa silenciosa na mente junto com os arrepios no corpo, dos lábios um suspiro, escondidos nos braços daquele banho no escuro.

E quando a madrugada cai, as palavras se recolhem, inteiras em si. Transformando os pensamentos em um viver, com sabor de sorriso. Naquela hora se descobre que pode viajar, fechar os olhos e dizer pra si que naquele sonho em forma de desejo não haverá muros. Destrui algum deles sorrindo, outros, saltando na rua.

Seguindo o ritmo do lembrar que, com olhos fechados, acelera por dentro, escrevo com os dedos leves e com a mente em uma cabana pequena. Com a cabeça encostada na sua, percebi que os arrepios esquentam o corpo nos momentos em que o respirar se esquece de mostrar presença. Por ali, o céu junto com a Lua brincavam de fazer nuvens pequenas e juntas, tímidas sem querer. E ao som de uma música lenta percebi que por alguns segundos meus olhos passeiam sozinhos pelos seus, lembrando a mente, corpo e alma que não há frio. Nunca houve. Em um escuro desconhecido que passou veloz por aquela janela suja, se quardam uma inspiração e um veneno bom, que depois de aquecer por dentro esboçam em meus lábios lisos um sorriso suave e leve e no nariz uma doce fragância quente. Embaixo dos cipós e folhas que ofuscam a Lua, em meu peito se encosta o olhar que quarda saudades e desejos desconhecidos em nós.

Na poesia que se transforma em sonho. Havia, acima das nuvens, uma cama flutuando com a Lua e uma cabana de edredom recheada de sorrisos abafados, de um abraço apertado e de uma sensação que transforma o coração em uma fábrica de fazer mundos.