sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Metáforas de uma harmonia

O orvalho escorre pela parede, assim como a umidade do ar trás a chuva no final da tarde. Enquanto as paisagens do tempo se tocam pelo sempre e enfim. Lá. Aonde a Lua se esconde nas estrelas.

O vento sopra, me fazendo fechar os olhos e achar que ele precede um alívio, uma paz que não tem descrição. Me fazendo lembrar do mar e de outroras brisas que já se foram serenas e abrangentes. Por enquanto ainda não há nuvens, não chove de repente por entre o vão de um dia ensolarado, não há o cheiro de terra macia e molhada que alivia o peito e as deveras ventanias que trazem a sensação intensa de pressa.

Em meio ao silêncio disfarçado de harmonia, me perco no calor em forma de nostalgia e nas alegorias e metáforas de um sonho escuro. Enquanto verdades são estabelecidas, o caminhar permanece seguro e indolor. Como na beira daquele mar, aonde os pés gelados afundam aconchegantes na areia quente, cada olhar de meus olhos parecem feitos de noite e o som dos passos acalmam os ouvidos e as ondas do mar, fazendo-as ressoar leves e doces. Repletas.

No êxtase que permeia os seus tantos silêncios, me enganarei e sorrirei consciente. Farei dos segundos, horas absolutas de harmonia, das imaginações e espectativas belos ramos de flores e das palavras decorrentes de discórdia, um túmulo fiel as suas bordas, com uma frase bonita e silenciosas lágrimas previsíveis. Finalmente de suas certezas e sonhos, criarei uma realidade cheia de adjetivos complexos, aonde há um final se você quiser e um começo suave e puro sem fim.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Sonata de verão

Devagar, e como se precisasse respirar para sentir dentro do peito. O céu está escuro, mas embaixo esta iluminado por sorrisos e pela grama que reflete a luz em nós.

Você deveria saber que não se pode ter certeza demais. Que no fundo, lá naquele poço em que guardamos tanta água, se jaz a vontade latente do querer mais. Você deveria saber tanta coisa.

Em reticências vazias, conto histórias que se perdem por inteiras em seu próprio ato de existir e estar. Ás vezes só na tentativa de reproduzir aquela sensação boa, que perdura no silêncio e ecoa no espaço e tempo da poesia. Mas sempre soam falsas e deletérias, como insetos que aparecem no começo do verão, sem timidez, sem conteúdo.

Em silêncio, enquanto junto os pingos de chuva que cai, percebo as cores se formando ao ver a água da chuva molhar os papéis de seda colorido, espalhando por entre arco-iris e borrões, contos e poesias que ainda úmidos exalam tantos perfumes, cheiros que só com os olhos fechados se sente.

O passeio acabou, o sol se pôs e as estrelas não estão brilhando no céu.
Você não vai me levar em casa?

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fantástico ser de ilusões

"Distante esta minha identidade.
No imaginário, encontro com o meu semelhante:
Forte, futurista, consciente do que tem em mãos...

Imagine: Viagem no desconhecido que será tudo mais lúcido,
caminhar com o eterno, se propagar no eter dos meus sonhos;
Fantástico ser de ilusões, só ele e capaz de ser...

Proclamar o ser, através de imagens."

(Waldir Oliveira Britto Junior. Te amo pai.)

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A bolha e o Leão

Agora que ela de fato se foi, a desculpa pra não por os pés no chão se tornou vaga.

Ah! Mas se você soubesse do samba que fiz e de quantos sambam comigo. Ah! Se soubesse. Provavelmente iria sentar e me ver cantar, e como em uma canção de ninar, uma hora você ia cair no sono e iria dormir de lado com uma mão entre as pernas e a outra apoiando cabeça no travesseiro.

Transformando o frenético em poesia, os distúrbios e conclusões instantâneas tomam a sonoridade do presente e fazem os olhos ficarem parcialmente abertos e a alma cheia de caos. A mente tenta acompanhar o ritmo da musica e as palavras correm soltas, como se elas estivessem na veia, pulsando junto com o coração. 

O leão ruje! Sua juba imponente brilha enquanto na noite crescente o leão corre pela savana cheia de espinhos. Ele se engana, acha que está indo atrás de uma caça, mas na verdade está correndo pro mais longe que pode, atrás de um outro lugar para ficar, enquanto o Sol não lhe castiga os olhos.


Enquanto a luta entre os orgulhos beira a imaturidade. Com os acordes que meu ouvido consegue ouvir e as palavras tão doces e amargar soltas no ar, faço uma sinfonia perdida. Esquecida pelo ouvido de todos e deixadas para trás pelos novos amores vindos do caos.


Quando isso cai, você olha por cima do seu ombro e assopra a poeira que resta. Como se aquela estrutura por dentro não existisse, como se fosse feita de ar. Como se esse ar lhe assombrasse o seio e lhe franzisse o cenho, transformando você em uma bolha de vácuo, muda, seca e vazia.


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Olhos de Sol

Tranformou em uma entidade, algo geral e ao mesmo tempo particular.

Sua jornada lhe mostrou porquês e sentimentos diversos, dispertando confusões, pensamentos, teorias. Criando evolução. Em seus mundos, ele tentou descobrir segredos e componentes que fazem o universo. Procurou nos olhos e nos espaços de ar no solo, o sentimento. Se perguntava sempre sobre sua curiosidade e no quanto sua busca era infinita. Seus olhos as vezes permaneciam parados, olhando em uma unica direção, juntando a voz de seu corpo, de sua alma.

Em seu espirito repleto de uma paz caótica, permanecia a lembrança de olhos, olhos femininos, claros e simples, mesmo quando em cor escura. Tantos, tantos olhos diferentes em sua alma que sua parcela de imperfeição tocava sua mente, buscando por uma definição em sua perfeição.

Seus olhos fecham e ele lembra das grandes estrelas e do calor de cada uma. A sensação de materialização do espirito e da transformação do tempo. Seguindo as pulsações da alma e recriando na mente as sensações que um dia lhe fizeram humano. Esses Sóis, tão arrepiantes e sem definição, capazes de criar mutações no espirito e aquecer a alma. Como os olhos, aqueles olhos.

sábado, 27 de outubro de 2012

Luzes de sonho


Para conseguir imaginá-lo você tem que recorrer as suas mais profundas memórias, aquelas guardadas em um cofre bonito, moldado de ouro e das mais belas cores.

Nesse sonho a sensação é conhecida, ao fechar os olhos se consegue sentir a nostalgia de cada olhar, cada risada e cada momento do mais puro sentimento que não conseguimos definir. No ônibus aonde viajávamos estavam os melhores companheiros da nossa vida, aqueles que nos tiraram um sorriso tantas vezes e que deveras estavam ali, apenas por nós. Viajando ao nosso lado, fazendo de uma fuga uma viagem de uma paz sem fim.

No formato de sonho, os momentos de nossa imaginação tomavam forma, de súbito. Nestes, brincávamos todos juntos em meio a rua, nos jogávamos no chão rindo, ele deslizava, quem olhasse de longe acharia que era briga, mas era como se só nós soubéssemos como ser feliz no mundo, em meio aos tropeços e escorregões, encontrava seu olhar, tão brilhante e real. Esbarrava com esse olhar em meio aos tantos momentos de nostalgia naquele ônibus, quando dançávamos todos ao som de nossas vozes, quando todos cansados começavam a ri do nada, quando revíamos todos juntos as filmagens que fazíamos das lembranças de nossas vidas.

De alguma forma, você não conseguia acreditar naquele sonho, sempre que o ônibus parava em seu ponto você saltava sem eu ver, e eu descia correndo pra te buscar. Em uma das vezes, o sol estava se pondo, e aquele ponto de ônibus se transformava em um cinema a céu aberto e todos em volta assistiam deitados, acomodados, como se fossem passar a noite ali, e iam. Vejo o filme com o braço esquerdo abraçando seu pescoço, de súbito você sai, senta um pouco longe, depois de um tempo, vou até você e ali você estava com uma carta na mão, me olha e me da um sorriso. Por ali as luzes se apagam junto com o sol e a gente adormece abraçado.

Mas você sempre tentava ir embora, me dizia que queria ter certeza de uma coisa antes, que faltava alguma centelha em você presa na realidade, mas que você queria estar ali viajando conosco. Era sempre uma festa diferente quando você voltava e todos te recebiam como se a tivessem conhecendo pela primeira vez. Fazendo você, sem querer, brilhar cada vez mais.

O sonho não tem fim e acaba com você viajando com a gente. Íamos em direção as mais belas crônicas e contos de fadas, não havia espaço para o medo e o arrependimento. Eram luzes viajando dentro de um ônibus que não balançava em estradas esburacadas e não caia de precipícios. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Uma estranha mágica feliz

As pessoas se derretem o tempo inteiro em si. Fugindo, por vez ou outra, do resto em volta. Esquecem, por querer, que não há como se ignorar o que se vê e sente.

Seja humano! Ao fazer isso você vai reparar que, de fato, é fácil um bando de coisa. É positivista e zen falar isso, mas é por esse caminho que temos que fazer dentro de nós para tornar o nosso mundo exterior - o que nos tange - mais parecido conosco.

Escrevendo meu livro perto do céu, encontrei uns seres estranhos, eles eram em demasia felizes. Tão estranhos que nem se percebiam, pulavam por ali e sorriam sem se perguntar os tantos porquês. Aqueles porquês, hum? Esses que a gente tanto se faz antes de sorri. Não só de sorri, mas antes de se perceber e de pular. Olha que estranho, eles eram felizes! Enquanto por ali, percebi que era o homem mais feliz do mundo. Mesmo que por um momento. Não falei com eles, nem sequer interagi, não precisava. Eles eram energia, me amavam de súbito e me arrepiavam quando respiravam o mesmo ar que o meu. Estranhos. Belos.

Há mais mágica do que a gente imagina. Há muito de nós na escuridão dos olhos fechados, quando nos esquecemos, no silêncio, quem somos. Não é mentira quando você olha em volta e se sente enorme, e percebe que pode alcançar tudo, também não é mentira quando o mais fino pedaço de si é o que sobra e, amedrontado, ele se acanha e se encolhe em si, desaparecendo quase que sem querer. Lembre que se trata de você e quando se fala nisso, se fala sobre um universo de possibilidades. Mas isso é um clichê, hum?

Há dias em que o sol nasce duas vezes. Ao descer dos sonhos, respire e toque o real sem medo.

O Forasteiro


De outros ventos, de outros lugares contidos no mundo dos humanos.

Diferente, atraindo olhares a sua pessoa. Involuntariamente encantando corações de mulheres solitárias a procura de um homem diferente dos demais. Calmamente e sem intenções, o nobre estrangeiro com seus segredos e histórias a contar não procura um lugar pra ficar, como um hotel ou a casa de um casal de velhos dispostos a acomodar um nobre forasteiro vindo de lugares inimagináveis. Adormeçe embaixo da copa de uma arvore da região. Cidadela gentil, poucas pessoas, um lugar aparentemente familiar. Não está muito preocupado com isso, está de passagem, pra muitos seus atos e seus costumes despertaram curiosidade, mera consequência de sua aventura. Seu destino possivelmente ninguem por ali sabe. Simplesmente desloca seu corpo a lugares aonde, como dizem, o vento levar.

Acorda meio atordoado, vindo de um lugar estranho aonde ele denominaria de um pesadelo. Seu espirito voltou assustado, por isso o atordoamento. Não voluntariamente, foi acordado por uma criança. Aparentemente uns 7 pra 8 anos de idade, vestida com uma calça jeans, blusa branca, sapatinho azul com detalhes brancos envolta e um casado azul marinho como seus olhos, cabelo aparentemente despenteado por suas próprias mãos, possivelmente um gesto de irritação por sua mãe pentear seu cabelo de uma forma que ele não queria. Com um galho catucou curiosamente o forasteiro fazendo-o acordar. Perguntando em seguida o seu nome, ele olhou o menino e volto a dormi se cobrindo no rosto com um pano que tinha a seu lado. Petulantemente, o guri pegou o galho e levantou o pano dando um sorriso amarelo. Aquele tipo de sorriso que não tem como você não sorrir também, foi o que o forasteiro fez. Sentou-se, ajeitou seu cabelo, como se fosse adiantar alguma coisa, tentou olhar para o sol, mais não conseguiu, afinal ele tinha acabado de acordar. Levantou sua mão pra bloquear a luz do sol e olhou para o menino, que estava estático a sua frente, esperando sua resposta. O velho forasteiro respondeu, "O meu nome você sabe meu filho, me diga você.". O menino insatisfeito, insistiu, "Não sei seu nome não senhor, por isso que perguntei né...". O forasteiro abaixou sua mão e coçou sua cabeça, olhou pra sua mochila e retirou de lá um pequeno caderno contendo folhas brancas sem linhas, parecia mais uma tentativa de um diário sem destino e sem palavras, em branco. Pegou-o, abriu ele em uma página qualquer e ficou olhando por alguns minutos e deu na mão do guri. Virou pra ele e disse, "Caio, esse é um caderno que um velho me deu quando eu tinha a sua idade, como você, fui curioso e ele me deu esse caderno e disse que esse caderno responderia minhas perguntas, que só bastaria acreditar em mim mesmo." Hoje, eu não preciso mais dele pois minhas dúvidas mais íntimas já foram respondidas...". Curioso o menino pergunta, "Mais quem foi que lhe respondeu as perguntas?". O forasteiro sorriu e disse, "Isso você descobrirá...". O menino olhou para o caderno e virou de costas gritando sua mãe que estava sentada arrumando o piquinique, "Olha o que eu ganhei mamãe! Foi esse moço que me deu!". Apontando para trás. A mãe sorriu para ele e disse, "Meu Caio, não tem ninguém ali, para de brincadeiras e vem comer, eu já arrumei o piquinique, vem comer com a mamãe!". Assustado virou de novo pra debaixo da copa da arvore e não viu ninguém. O mesmo envolta. Então ele olhou pra sua mão que segurava o caderno e disse a si mesmo, "Mais afinal, qual era o nome dele...?". Triste e irritado jogou o caderno no chão e foi em direção a sua mãe.

O caderno com capa mole e preta sem nada escrito caiu aberto no gramado pisado. E em uma das páginas que se abriu no caderno se escreveu ao vento."Jonatan Khatrun."

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Valsinha de outono

Sob as notas de uma manhã sem nuvens, as vozes e rostos dos finitos ecoam na mente, como uma promessa de folhas secas que jazem no outono insólito e quente.

Em forma de cronicas, as sensações pálidas do dia entram em comunhão com um pensar de sorriso tímido e fugaz. Toda hora ela se vai, todos os dias desaparece por entre as luzes da alvorada que nasce. Levando consigo minha metade e uma parte que não tinha.

A valsinha suave soa no fundo, o vento gelado do ar condicionado se refugia em minha nuca e junto com os processos básicos em meu estômago, me inebriam  de sono. Os pensamentos se fazem em minha mente, e a solitude que me inspira torna tudo em volta mais lento e calmo, como o nascer das flores e as vívidas nascentes de água clara em uma primavera jovem. Sinto queimar um pouco por dentro e tenho certeza que não entendo o porque. Acho que no final estou cansado, de tomar chá de ervas daninhas com gosto falso de rosas, sentado com as pernas cruzadas, esperando o Sol se pôr.


O dia ainda não terminou. Quando a noite se fez, o som do piano doce ainda ecoava naquelas paredes. Por ali, deixei um conto de fadas mal feito e um arrepio que queima por dentro.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Garrafas vazias e uma gota tímida

Me rodopie de novo e esfregue meus olhos.

Por pressa se pensa precariamente no formato em que as palavras sairão, depois de pensar, claro, nos padrões atuais que ficam em nossas cabeças. A minha está cheia de tempo, ansiedade, chá, madrugadas cheias de Lua e crônicas de uma jovem livre. Sem querer revolucionamos isso quando decidimos seguir o caminho que criamos pra nós, criando um fluxo de momentos e sensações que nos fazem, no final, um pouco mais maduros, ou não.

Apenas por agora, decidi que todos os dias irei voar pelo menos um pouco. Como um velho, irei olhar fixo pras pessoas e me lembrar que há um pouco de mim dentro delas. Ouvirei novas músicas e andarei com aquele sorriso amarelo e inteiro no rosto que precede um olhar súbito pra baixo e em sequência outro para o redor, com os olhos um pouco fechados. Entre os momentos que se conectam com o fechar dos olhos e os papéis de parede que não brilham no escuro. Suspiro.

Pelo céu, as gotas pequenas de água se juntando criam descargas elétricas, formando relâmpagos, queimando o ar ao redor, depois de pesadas elas caem, atravessando o céu até tocar sua janela fria. Por ali a gota escorre. Você olhando através dela enxerga o mundo de cabeças pra baixo, com seu hálito quente de sonho a janela embaça e você não liga, repara que o dia está cinza e fecha a cortina de súbito. Se deita tímida e adormece depois de molhar os lábios.

Só quando o tempo estiver bom escorregarei por você. Aonde a chuva cair caminharei gelado, guardando em garrafas vazias os pingos de céu de outrora.

domingo, 7 de outubro de 2012

Prefácio

Depois da dança, sorrisos e arrepios,
Tiram aquele sorriso bobo do rosto e se olham de um modo diferente, 
ficam ali por alguns minutos, se olhando, se admirando. 
Observando um no outro os detalhes do rosto sobre a luz da lua. 
Misteriosamente a musica acaba, não ligam muito. 
Estavam lá, eles, a Lua e os sons da noite. 
Abraçados tentando adivinhar possíveis estrelas brilhando de um modo diferente no céu, 
descobrindo juntos figuras loucas feitas de nuvens.
Sem saber, procuravam o reflexo do amor neles no espelho negro do céu.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Nota do surto

Enquanto os pés tocam no chão, a sanha que precede o ermo cria uma fábula, como aquelas que foram deixadas para trás.

Talvez esse toque mero que silencia o peito seja o suficiente. Talvez seja uma lição, talvez seja tantas coisas. Na tentativa mera de um amar, certos cordões e lições vão fazendo maior sentido, um sentido que o viver não ensina somente, mas que apenas o toque sábio sabe as palavras certas para falar. Ouvir, silêncio, ouvir. Apenas.

Mas as nuvens continuam no céu, a Lua se esconde e as batidas secas de seu peito dormem sem pensar duas vezes. Aquele grito continua la, o grito da primeira nota do surto da fábula. Escuto ele la no fundo, sinto que ele quer me dizer alguma coisa, mas minha alma calma ainda não conseguiu escutar. Minha “alma calma que não condiz com a nossa pressa”. Pressa. De sentir saudades de uma história de contos de fada em que a perfeição parece rotina e ser feliz é quase um desespero. Na pressa, o ar corre solto, e o calor que me esquenta o peito continua ali, quase líquido, suando na manhã dormente.

Os risos e a folia continuam, o equilíbrio se mantem e vôo permanece calmo. Sem cálculos. Sem premeditações. No soluço prévio de uma quarta jornada. Um eu sem nome aprende a levantar sozinho do berço, as broncas são grandes, mas o sorriso no rosto basta. Em devaneios soltos pelo ar, só o silencio e a sua ânsia me entendem.

As cinzas voam e vejo os pés virados para cima, o céu esta escuro e sem estrelas, a luz continua no fundo, fazendo contraste com o negro do céu, as montanhas estão cada vez mais longe e a única certeza é o do caminhar, longo. Longe.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Estátua

O grito mudo ecoa no horizonte de cinzas, ainda se pode ouvi-lo, quando os olhos fecham e a boca seca.

Em som de escuro, os tambores retumbam ao longe, ocos e pesados, junto com os ritmos inebriantes do coração, seguindo o fluxo lento do sangue que aquecem as mãos. Fazendo-as secas abrirem os dedos devagar, quase quebrando. As dunas cinza escuro se cruzam com os estrondos de vento e as montanhas de prata manchada se derretem e se precipitam, jogando constelações no céu.

Os olhos não piscam, os arrepios no corpo tentam miseravelmente preencher os espaços vazios por dentro e os ouvidos buscam assimilar o som do coração com as tambores ocos de outrora. Dentro daquele ar não havia apenas poeira. Tentando engasgar a garganta, alguns sentimentos, medos e mentiras brincam de caçar os pequenos vagalumes que por ali tentam voar. Com os olhos vidrados e pernas cruzadas ele observa a oscilação da poesia funebre de seu subconsciente silencioso. Em busca de ar, seus lábios secos se abrem de vez em quanto. Respira. A sensação lhe queima a garganta e seu nariz treme. Seu rosto fecha. Em segundos aquele lugar se torna cada vez mais escuro, como o som que retumba da luz atras das montanhas. As calças negras se rasgam nas pontas a cada respirar fracassado. Engole seco. Da mais pequena brisa um arrepio na espinha, passando das costas para a ponta dos dedos. Seus olhos desviam para os braços, lhe fazendo perceber sua pele desidratada e as pequenas tatuagens vermelhas se tornarem vinho sangue, escuras, fugindo de si. Respira. Queimação. Fôlego. Fecha seus olhos. Se concentra e fecha suas mãos para sentir o calor. Mesmo com a sensação de rasgar, abre seus lábios secos e com a boca entre aberta puxa o ar. Seus olhos piscam. Seu corpo arrepia e ao redor sente um vento gelado e aconchegante. Os tambores seguem seu coração, lentos, ainda retumbam quase que vacilantes. As constelações se desmancham e as Luas se põem no horizonte que nunca amanhece.

Pequenas rochas vulcanicas por ali jazem. Das frases dormentes e cheias de Sol se brotam as estrelas que ainda se arriscam a brilhar. Em forma de estátua, seu corpo medita surdo, mudo e de olhos fechados, sentindo, entre os ventos que transformam poesias em vagalumes sem rumo, entre as cinzas frias e pesadas de um queimar antigo cuja memória se morreu nas ilusões e medos, os arrepios que anestesiam a alma, como um poema esquecido por um fazer sem sentido.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Pedaços de Lua

A voz ecoa silenciosa na mente junto com os arrepios no corpo, dos lábios um suspiro, escondidos nos braços daquele banho no escuro.

E quando a madrugada cai, as palavras se recolhem, inteiras em si. Transformando os pensamentos em um viver, com sabor de sorriso. Naquela hora se descobre que pode viajar, fechar os olhos e dizer pra si que naquele sonho em forma de desejo não haverá muros. Destrui algum deles sorrindo, outros, saltando na rua.

Seguindo o ritmo do lembrar que, com olhos fechados, acelera por dentro, escrevo com os dedos leves e com a mente em uma cabana pequena. Com a cabeça encostada na sua, percebi que os arrepios esquentam o corpo nos momentos em que o respirar se esquece de mostrar presença. Por ali, o céu junto com a Lua brincavam de fazer nuvens pequenas e juntas, tímidas sem querer. E ao som de uma música lenta percebi que por alguns segundos meus olhos passeiam sozinhos pelos seus, lembrando a mente, corpo e alma que não há frio. Nunca houve. Em um escuro desconhecido que passou veloz por aquela janela suja, se quardam uma inspiração e um veneno bom, que depois de aquecer por dentro esboçam em meus lábios lisos um sorriso suave e leve e no nariz uma doce fragância quente. Embaixo dos cipós e folhas que ofuscam a Lua, em meu peito se encosta o olhar que quarda saudades e desejos desconhecidos em nós.

Na poesia que se transforma em sonho. Havia, acima das nuvens, uma cama flutuando com a Lua e uma cabana de edredom recheada de sorrisos abafados, de um abraço apertado e de uma sensação que transforma o coração em uma fábrica de fazer mundos.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O segredo e um sábado dormente

Enquanto o silêncio e o som escrevem sobre um você, os acordes e versos de um mundo escuro se fundem, formando tornados e tempestades por ali.

Era um sábado quente, parecia verão, com a porta entre aberta só dava pra passar os raios do Sol que queriam ver meu rosto. Sempre tentando me acordar, parecia que estavam querendo me lembrar de algo. Seja como fosse, era sempre aquele sábado quente. O horário se perdia entre alguns devaneios, as vezes em algumas lágrimas, outras em raros sorrisos. Sorrisos feitos de uma alegria breve, súbita como a vinda, nada silenciosa e sem mentiras. Sei que geralmente os raios estavam a se pôr e com eles, as vezes, o vento soprava, fazendo sair do mensageiro dos ventos um som suave e sereno, como o escuro de um quarto no amanhecer do dia.

De vez enquanto algumas nuvens apareciam e com elas uns pingos tímidos caiam e logo se evaporavam. Quase tudo se evaporava nesse sábado quente. O que sobrava criou tanta história, tantos contos e fábulas de outrora, tantas figurinhas e papéis de parede disfarçados de amor, que mesmo sendo mentira, sobravam, criando pitadas de verdade.

Era sempre longo aquele sábado quente, me esquecia por vez ou outra que estava ali. Ele por si só era repleto, tanto que me sufocava sem querer, como um tropeço, me fazia sentir cheiros antigos, perfumes desconhecidos que só me traziam saudades. Respirava, as vezes, nesse sabado quente. A sensação que me remetia era de completude, mas parecia vago, silencioso, como se mesmo assim faltasse alguma coisa. Algo perdido em algum lugar, faltava apenas aquilo para que fosse pleno, formando um fôlego vazio e oco que se transbordava em si, me enchendo, me inebriando.

Depois das tantas tempestades e tornados, só restava o mero saber de que o que faltava se guardava no segredo por trás do porque dos meus olhos nunca conseguirem ver o Sol se pôr, naquele sabado quente.

sábado, 15 de setembro de 2012

Memórias de uma parte que não tinha.

É muito cedo para se destruir um mundo feito de sonhos.

Depois de certas mudanças e de formas de ver uma mesma situação, somos fadados a chegar a conclusões. Fadados a perceber nos detalhes que aquilo se tornou passado. Que bom que se tornou passado. O que seria de nós se não deixassemos que as coisas fossem? Há quem diga que somos feitos de despedidas. Irremediavelmente raptados pelas cordas e equações do tempo. Mas deixa isso quieto por enquanto, é só um detalhe. Quanto ao nosso fardo que procede uma situação, não se desespere, não somos feitos de conclusões. Somos um processo lento e relativo que tendem a criar perguntas e esconder as respostas no mais fundo mundo do subconsciente. Como não sabemos disso, reflita, nunca destrua um mundo feito de sonhos, ele é o produto do mais claro você, nu, cru e, principalmente, perfeito.

Certas sensações, sentimentos que reagem dentro de nós de uma forma tão diferente, revolucionam por si só, coisas na mente, alma e corpo. Criando na mente mundos e sonhos que fazem de nós seres magnificos. Essa "magia" nos faz sentir de uma forma unica o sentimento que for, nos tornando divinos. O principal disso, é perceber a interação da energia entre dois seres, e o quanto eles são capazes de dividir esses sentimentos. Se tornando um de uma forma que nenhum dos dois conhece, mas que apenas amam. O ser, que você divide as batidas do seu coração, não é apenas um ser. É, seja por um momento, o ser mais importante do universo. Porque é com ele, que você se torna um com o todo, as vezes, em segundos. Momentos em que silêncios se tornam palavras e o amar se torna fisico e tangível.

Enquanto respirar lembre-se de respirar, de beber agua e sem querer soluçar, de que do Sol vem uma luz que te aquece, te arrepia, de que é uma pessoa unica, de que da mais simples forma de amar se tira um suspiro, aquele que te faz respirar. Descubra que o amor é simples e que nele se guarda você e os sonhos que um dia te disseram que nunca iria realizar.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Poslúdio

Depois da hora mais escura da noite...
Acordo com os pássaros cantando sem pressa ao longe
Sem te acordar lhe beijo devagar e fico te olhando sonhar
Por debaixo da cortina, as luzes fracas se abraçam com o escuro,
E do cobertor, sua mão encontra a minha
Levantamos e tropeçamos de sono
Subimos as escadas correndo até o terraço
Você pula atrapalhada nas minhas costas..
E lá ficamos abraçados vendo o Sol nascer em nós.

sábado, 8 de setembro de 2012

Mar de tons

Antes do Sol nascer havia uma Lua sorrindo, ao lado dela uma estrela ingênua e tímida, envolta estava a noite que se confundia com as gritos de felicidade e as frases dos dois que dançavam nas nuvens.

Você pode facilmente confundi as luzes com as pessoas e aqueles sons com os pensamentos que jazem inteiros, quase concretos, cheios de tons. Você pode até pensar que só há loucura e vazio e se esquecer que há mais do que corpos cheios de som, há tantas histórias, tantos contos, poesias. Vidas. Mundos. Sob um olhar minucioso e devagar você observa elas se inflando, se tocando, formando tantas outras histórias em olhares, gestos e sons. Histórias que nascem com o Sol, fazendo um novo dia.

Então você se lembra que está ali, os olhos piscam e você se sente invadido pelo mar de som feito de tons e dentro deles há aquele feito de sonhos loucos, de um dormir sem demora, feito de leveza e paz, de uma poesia de cores como os cabelos que balançam com o ritmo hipnotizante, de movimentos, olhar e boca cheios de sorriso. Um tom cheio de sorriso, com um sabor que guarda sensações que fazem esquecer da respiração e que com olhos fechados criam na imaginação aquele nascer do sol na praia e no estar um silêncio inebriante e maravilhoso. Tirando o sono antes de dormir, fazendo sonhos.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Chuva púrpura

Por ali não havia frio, trevas e nem medo.

Naqueles trovões haviam mais que ar se deslocando, haviam gritos e personagens que se esconderam por trás da mente. Ele conseguia sentir o mundo falando, sabia que por dentro dos relâmpagos que se propagavam dentro de seu ser eram feitos pela sua mente, feitos pelos tantos surtos de outrora e de todas aquelas despedidas.

Então a chuva cai, tocando seu corpo ainda ajoelhado, tocando as lágrimas em seu rosto, se misturando, lhe transformando em agora. Em suas mãos ele segurava os demônios que criou em suas buscas para entender os detalhes que fazem o caos dentro do ser. Percebeu que dentro dessa busca se escondiam muito de seu próprio ser, muito do que havia pensado e criado em sua jornada pelos mundos. A chuva ainda estava ali, torrencial, extravagante, orgânica e aconchegante. Ali, só ali, os trovões eram como o seu grito, sua paz era  no tom da chuva e as luzes feitas pelo céu brilhavam tanto quanto seu coração. Ali tudo era a sua altura, enorme, divino.

Seu corpo se arrepiava as vezes, aos poucos, naquela noite, os trovões ecoavam cada vez mais distantes, longos e "ocos", a chuva se abrandava no ritmo do coração dele e os relâmpagos não queimavam mais o ar. Era devagar, o ritmo era lento, equilibrado, sem pressa. Enfim o silêncio e os pingos que se soltavam das arvores molhadas. Ele suspira. Com a energia de seu corpo aos poucos se formam no céu uma aurora púrpura, então ele abre seus olhos e contempla aquele céu com seus braços abertos e então seu ser conversa com aquele silêncio. Ali, o Silêncio disse que o ser é feito de tempos, feitos de um quebra-cabeça completo que se perdeu na mente e nos mundos da subconsciência e que só providos de verdade e de equilíbrio se é capaz de monta-lo definitivamente. Que montamos ele as vezes quando esquecemos que existimos.

Quando esquecemos quem somos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tantas coisas

Tem certos olhos que riem sozinhos, sem precisar de um sorriso ou que um outro alguem leve aquela felicidade até ali.

Sem querer se observa tanta coisa. Tantas delas perdidas em meio as imaginações e desejos. Tantas delas, perdidas em nós. Esperando viver denovo, esperando não serem esquecidas em meio a pressa, em meio ao descaso.

Por querer se criam tantas coisas: tantos sonhos, saudades, ambições, solidões, anseios, felicidades, tristezas, vontades, segredos, silêncios, máscaras, desculpas, amores. Tantas delas, criadas em nós. Esperando, tais coisas, por um Deus, criado também, pela junção do verbo povo. Pela criação sociedade, que se cria todos os dias em si, querendo a cada dia mais ser. Ser um plural singular, talvez com gênero, número e grau.

Escrevendo textos na madrugada, sozinho, observando a distância o quanto se mudam as coisas, observando os pensamentos que tive e que provavelmente ainda terei. Recriando dias que ficaram pra trás e o quanto eles parecem que são hoje, o quanto o gosto é o mesmo, assim como o cheiro e som. O quanto eles me voltam em sonho, embaralhados, misturados entre o que crio e observo, dentro do mundo que me vem na imaginação depois de olhar pra escuridão, dentro da ilusão entre ser e estar, entre viver e sobreviver. Sempre fomos assim, como um livro, sólido, cheio de páginas, cheio das tantas coisas, daquelas que vem e vão como o Sol que se disfarça de Lua, cheios daquelas tantas coisas que se disfarçam de nós e que no mesmo se perdem e se criam, todos os dias, querendo apenas um pedaço do que é ser. Ser.

"Where will you go
If you can not save you from yourself?
You can't escape
You don't want to escape"

domingo, 5 de agosto de 2012

Sonho da flor de outrora

Uma maquiagem superestimada, sem o colorido unico que brilha sempre prestes a apagar.

No vento, um polen segue o rumo em direção a flor de outrora enquanto a pressão do céu cheio de estrelas esmaga o campo vinho, diminuindo seu fluxo, fazendo-o devagar tocar a flor, sem feri-la. Quando o toque se faz, um vento de outrora tras uma sensação que se confunde com algum tipo de luz que toma a forma de um momento, cheio de tempo, cheio de si. Na busca pelo que o medo torna insólito, das pétalas de vinagre, brotam as lágrimas de outrora que seguem curvas cansadas cujo cheiro já mudou com toques e formato com os sorrisos e tristezas. Tão frágil, tão branca. Aquele vento se vai e a sutileza daquele movimento que se foi a torna vaga, imóvel denovo. Então aquele Sol de outrora se dorme inteiro, levando consigo algumas nuvens e um colorido do campo e do céu que esquentavam seu todo. Naquele céu de outrora, um escuro brinca de abraçar os pedaços de estrelas que com suas belas formas, seu brilho, deixam um vestigio de luz naquele breu, naquela sombra que só os pesadelos sabem tocar. Noite. Silêncio. Só enquanto o som oco da terra de outrora movem suas pedras e abrem caminhos para uma vida que as raizes da flor não conseguem tocar. Se esqueceu como tocar. Durante uma noite, há o frio e um calor latente, só naquele começo, não mais. Em sono, o pólen semea e das pétalas caem sementes doces, doces como as lágrimas de um sonho bom. Então na prece do Sol que se torna Lua, o amor torna a canção que ecoa pelo céu uma fonte de luz e paz que seguirão pelos ventos de outrora àquela flor de vinagre.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um ônibus e uma perfeição defeituosa

O resto é apenas lembranças. Escritas em formas de contos e linhas, como a sua visão passando na mente, ele vive, viveu. Disseram a ele que nesses dias que o Sol não toca a face da terra, sentimentos que adormecem o peito se sentem a vontade pra passear lá fora.

Descobri em poesias passadas o quanto sem vida elas são. Ruins. Cheias de razão, de unhas escuras, de terceiros, de arames. Dentro desse ônibus o mundo lá fora parece sem som. Seco, vivendo por si só, sem precisar se expressar para ninguém, sendo apenas, complexo e com definições simples que são definidas pela minha mente pequena. Cheio de topos, nuvens, terras, e poesias sujas em algumas partes, mas incrivelmente bela em outras. Como nós. Como deveria ser...

A jornada feita pelos sonhos e pensamentos engana a perfeição em seu ato de ser, dizendo a ela que seu maior defeito é ser perfeita, mostrando ao homem que só lhe basta tocar, respirar e observar a vida, e que na alma de quem lhe toca o espirito jaz a essência da incógnita-mor que pela descoberta e inocência ensina a ser um com o outro. Assim dizia...