terça-feira, 13 de abril de 2010

Laços eternos

"Perdido em pensamentos, jazia o predestinado arauto maldito. Refletindo sobre a desgraça que pairava como uma densa nuvem naquelas terras e nos lugares mais recônditos do mundo, não imaginava o destino cruel que em breve cairia em suas mãos. A nevasca que caía sobre seu reino, naquele dia, o ajudava a aliviar a apreensão em sua alma. Fazia pouco tempo que a timida aurora surgia no céu, e estava ele caminhando nas ruas da cidade coberta pela espessa camada branca. Observava atentamente o despertar da cidade em meio ao severo frio. Pastores deslocando seus rebanhos, lavradores recolhendo os frutos de suas colheitas, senhores cuidando de seus cavalos. Calmo como o alvorecer adornado por uma infinidade de árvores frutiferas em sua roupagem morta de inverno junto ás nascentes, mananciais e lagos de água turva e congelada que rodeavam um reino de arquitetura fabulosa, talhado em pedra cinzenta. Chegando em uma das praças principais da cidade, o homem avistou ao lado de uma fonte majestosa de água interrompida, um grupo de pitoresco de músicos que chamavam a atenção de um bom número de pessoas. Aproximando-se do local, percebeu uma carruagem donde provavelmente o grupo de deslocava. Era composto por um laúde, uma harpa, e uma flauta, que era o instrumento principal das seções.

O tema tinha terminado e foi aplaudido pelos presentes, onde se iniciou um novo tema, mas profundo, singelo e belo. Nesse momento, o homem notou a bela jovem que atoava as melodias da flauta com maestria. Sua aparência era inebriante e pura como a própria chuva. Suas vestes denunciavam sua origem cigana e sua alma peregrina, o que agradou muito. O fogo em seus cabelos contrastava com o branco azulado da paisagem que combinava com sua pele indelével e seus olhos penetrantes. Nesse instante, ao olhar para a face da jovem, ele teve a sensação de cair em um abismo sem fim, uma eternidade colossalem ínfimos segundos.os minutos de passaram e a atmosfera no ar se tornou tão mágica e envolvente que o arauto tomou seu alaúde nos braços e participou da musica, concedendo-lhe profundidade. Ouve a dissonância, e com ela uma harmonia tão grande que era semelhante aos laços matrimoniais. A flauta tecia uma melodia de pureza jamais vista, e o alaúde retumbava metálico, com os arpejos de belos acordes. O tema se seguiu e terminou de forma majestosa e fria. O crepúsculo chegara e os dois eram os únicos que restaram no lugar. Eles se olharam e compreenderam o que tinham criado, não apenas uma suprema poesia, mas um profundo amor. Seguros da uníssona voz de seus olhos, consumaram o seu pacto com o profundo beijo, e ali se amaram, pois o calor de seus corpos os protegia do tempo enregelante. A partir dali, estava selado seus destinos por toda a eternidade, até os lugares imperecíveis."

(The Killing Hand - Cap IV - Laços eternos(pt.2)- Ramon)

Em nome de uma grande amizade, formada pelo tempo e pelo que somos.

Um comentário:

Jeh Pagliai disse...

Tão lindo, "pedidos de casamento" são sempre emocionantes...rs

Beijinhos.

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